segunda-feira, 21 de abril de 2014

LX60 - A Vida em Lisboa Nunca Mais Foi a Mesma

Excertos do livro "LX60 - A Vida em Lisboa Nunca Mais Foi a Mesma"
de Joana Stichini Vilela e Nick Mrozowski - Leya D. Quixote


Surfin' na Linha do Estoril

«Pedro Martins de Lima nasce para deslizar. (...) em 1959, compra uma longboard em França e torna-se o pai do surf português. Os populares acham que está louco, os cabos de mar tentam prendê-lo. Durante grande parte da década de 60 o "Pedro da Tábua" tem todas as ondas do país só para ele.
(...)
As pessoas olhavam para mim como se fosse um marciano. Juntava-se uma multidão a assistir. Como procurava ondas grandes, tentavam dissuadir-me: "Vai entrar com este mar?" Ainda estive para morrer três vezes, em Carcavelos, na Nazaré e na Ericeira. Se via ao longe uma coisa branca na areia já sabia que era o cabo de mar. Depois vinha a conversa de sempre:
"Não viu a bandeira vermelha?"
"Vi. Fiquei todo contente porque é sinal de que há ondas."
"Não é permitido nadar."
"Não estou a nadar; estou a navegar."
"Não se pode tomar banho."
"Não estou a tomar banho; estou vestido."
Ele ficava sem argumentos.
(...)
Somos um país de marinheiros onde não se sabe nadar, um país saloio, de espectadores. Nas viagens para o Alentejo e para o Algarve, havia quem dissesse que a prancha era uma coisa aerodinâmica para o carro.»
p.20-21

O assassino de Luther King esconde-se em Lisboa

«Na tarde de 8 de Maio de 1968, Ramon George Sneyd, um gringo de 40 anos, alto, calado e olhos azuis, entra no Texas Bar e senta-se ao balcão. . (...) Pouco depois, faz sinal ao empregado. Está interessado numa das raparigas: Maria, cabelo curto, 25 anos.
Os dois conversam numa mistura de inglês e espanhol até chegarem a acordo sobre o preço. Por 300 escudos, ela vai com ele para uma pensão na Travessa do Fala-Só (...) Combinam ir à praia, mas na manhã seguinte, Ramon manda dizer pelo concierge que deixou o país.
Em poucos dias o estrangeiro torna-se um perito no submundo lisboeta. (...) Durante o dia procura um navio para Angola. Quer juntar-se aos mercenários brancos em África. Quando finalmente encontra transporte, já é tarde de mais para tratar do visto e desiste. Resolve voltar a Londres. E é aí que tudo se desmorona.
A 19 de Maio de 1968, James Earl Ray, verdadeira identidade de Ramon, é preso no aeroporto de Heathrow a caminho de Bruxelas. Dar-se-á como culpado do assassinato de Martin Luther King e será condenado a 99 anos de prisão. Em Lisboa, os jornais praticamente ignoram o assunto. Entrevistada em Junho desse ano pelo The New York Times, Maria comenta "Espero que não esteja em sarilhos." A foto tirada pelo fotógrafo da revista Life à porta do Texas, ali por baixo da Rua do Alecrim, há-de correr o mundo.»
p.234

no site da WOOK


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