quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

O Diário de Anne Frank - Versão Definitiva

Excerto do livro "O Diário de Anne Frank" - Versão Definitiva
Editora Livros do Brasil



«Dou-me bastante bem com todos os meus professores. São nove, sete homens e duas mulheres. Mr. Keesing, o velho bota-de-elástico que dá aulas de Matemática, esteve zangado comigo imenso tempo por causa de eu falar muito. Depois de vários avisos, passou-me trabalhos de casa extra. Uma redacção com o tema "Uma Tagarela". Uma tagarela, o que é que se pode escrever sobre isso? Preocupar-me-ei mais tarde, decidi. Tomei nota do trabalho no caderno, enfiei-o na mala e tentei ficar calada.
Nessa noite, depois de terminar o resto dos trabalhos de casa, reparei no apontamento sobre a redacção. Comecei a pensar no assunto enquanto mordiscava a ponta da minha caneta de tinta permanente. Qualquer pessoa podia divagar e deixar espaços grandes entre as palavras, mas o truque era arranjar argumentos convincentes para provar a necessidade de falar. Pensei. pensei, e subitamente tive uma ideia. Escrevi as três páginas que Mr. Keesing me tinha mandado e fiquei satisfeita. Argumentei que falar é urna característica feminina e que faria o meu melhor para a tentar controlar, mas que nunca conseguiria livrar-me desse hábito, urna vez que a minha mãe falava tanto como eu, se não mais, e não há muito que uma pessoa possa fazer quanto a características herdadas.
Mr. Keesing achou graça aos meus argumentos mas, quando continuei a falar durante a aula seguinte, passou-me urna segunda redacção. Desta vez era sobre o tema "Uma Tagarela Incorrigível". Entreguei-o, e Mr. Keesing não teve razão de queixa durante duas aulas inteiras. Contudo, durante a terceira aula, finalmente explodiu.
– Anne Frank, como castigo por falar na aula, escreva uma redacção intitulada "Quá Quá Quá, disse a Menina Tagarela".
A classe rebentou em gargalhadas. Tive de me rir também, embora já tivesse praticamente esgotado a minha imaginação sobre o tema das tagarelas. Era altura de encontrar outra coisa qualquer, algo original, A minha amiga Sanne, que é boa em poesia, ofereceu-se para me ajudar a escrever a redacção, do principio ao fim, em verso. Dei saltos de alegria. Keesing estava a tentar fazer pouco de mim com este tema ridículo, mas eu trataria de que o feitiço se voltasse contra o feiticeiro.
Terminei o meu poema, e estava lindo! Era sobre urna mãe pata e um pai cisne, com três patinhos bebés que foram mordidos até morte pelo pai por grasnarem de mais, Felizmente, Keesing aceitou a piada da melhor maneira. Leu o poema à classe, acrescentando os seus próprios comentários, e também a várias outras classes. Desde então tem-me permitido falar e não me passou mais trabalhos de casa extra. Pelo contrário, ultimamente Keesing está sempre a dizer piadas.
Tua, Anne»

O Diário de Anne Frank - Versão Definitiva, no site da Editora Livros do Brasil

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